Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

sábado, 26 de abril de 2014

Um Olho No Resto do Mundo

na Inglaterra, um pouco depois da hora do chá. 

Estava em frente à um quadro surrealista. Em um momento de descuido, aquele amontoado de tinta vermelha e azul lembrou-lhe uma pintura de sua filha de seis anos. Mas ele controlou-se rapidamente. Comprimiu os olhos, tentou ver o significado, no monte de tinta vermelho e azul. Alguém veio do lado dele e comentou, como quem não quer nada: É uma crítica à sociedade consumista, ao capitalismo e à virgindade. Opa, isso mesmo. Era o que ele ía dizer, estava na ponta da língua.


no Japão, na hora em que o Sol nasce. 

Eu esperei muito tempo por isso, ele disse, e observou o inimigo. Sua arma na mão, os olhos que não piscavam, o corpo que não tremia. Ele poderia dizer que o adversário o fitava também - mas não estava, e isso era também parte da estratégia. Nunca saberia o que lhe atingiu. Sayonara!, mas errou a mira, o chinelo caiu de sua mão, o pernilongo saiu voando. Tanaka sentou-se e chorou.


em São Paulo, vinte e três horas. 

O filho estava gritando novamente. Seus argumentos eram bons, algumas pessoas veriam isso, mas a mãe ignorava sistematicamente todos os argumentos e gritava mais alto. Ela vai começar a chorar, o marido pensou, enquanto remexia seu arroz e feijão. O filho gritou mais alto, ela colocou as mãos no rosto, se levantaram os dois. O pai socou a mesa. Houve silêncio. Ele começou a cortar o bife.


às treze horas da tarde, na Indonésia. 

Ele já tinha saído da sala, seus acessores já tinha batido a porta com força. Passaram-se alguns segundos e ele abriu a porta novamente. Gritou: 'Bwahahahaha!'. Não existia vilão sem 'bwahahahaha!'.


em Guernica, doze horas da tarde. 

Estava de armadura, sentado. Metal, brilhava. Algumas runas aqui e lá. O Cavaleiro do Novo México, sempre atento ao mundo e aos seus deveres, assistia ao Chaves. Alguns episódios que tinha gravado. Ele riu e se lembrou que já tinha ouvido a piada. Pensou em retirar a armadura: estava calor e assim ele mudava de posição mais fácil. Sem falar de conseguir alcançar o controle remoto.

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