Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

de como as pessoas são diferentes.

o post mais pessoal do ano.

Hoje, dia Vinte e Quatro de Abril de Dois Mil e Quatro, é, sob diversos pontos de vista, um dos dias mais importantes da minha vida [som de tambores]. Alcancei algo maior do que todo o resto que tinha conseguido. E, quê merda, eu não me importo. 

Hoje eu estive presente na Bienal do Livro na Pauliscéia, e publiquei pela Litteris Editora um texto em uma antologia. Chama-se São Paulo em Prosa e Verso; o meu texto, "Morrendo...". Sou escritor de verdade agora? 

O caso é que a minha mamãe, que também escreve (leia: escrevia), publicou um texto lá dela. E ela era um orgasmo ambulante. Eufórica, e ela já tinha publicado antes. Como eu posso me sentir tão diferente dela? Por que eu não agradeço a todos os santos como os outros escritores presentes? Por que não rio, grito, regojizo-me e digo que isso foi algo realmente relevante na minha vida? 

Porque não foi, porra. As pessoas são loucas, isso sim. 

Eu penso que o que eu vejo diverge das outras pessoas. O que eu vi no salão onde os autores falavam, declamavam? Vi pessoas contando histórias de trinta anos tentando, e o que conseguiram? Página e meia de antologia, da qual pagaram cada sílaba. O que eu vi? Pessoas que não leram as obras uns dos outros, mas tomavam autógrafos. Era algo feliz, uma amabilidade, sei lá. Besteira. 

Sem dizer que idade é um pé-no-saco. "Com essa idade", e blá, blá, blá. Me senti um picachu. Bochechas apertadas, pelo acariciado: "Ele solta choque mesmo? Mas ontem mesmo ainda era um pichu!". Blá. Me senti no primário. E minha mãe ficava enfiando o livro pela boca das pessoas dizendo que eu tinha escrito nele. 

Eu tomei autógrafo de uma tal Ludimar Gomes Molina, o poema foi um dos que mais me agradou, descreveu muita coisa. Outro, que poderia bem ter sido escrito pelo Trunkael, de Ana Paula Diniz, que eu não consegui achar na porcaria da sala. Aí desisti e fui comer cachorro-quente. 

E as pessoas começam a contar pra todo mundo essa coisa pouca. Tio, cunhado, dono de banca de jornal, proprietário de bar, prima distante... eu não contei pra ninguém. Nem meu pai sabe. Pra quê? Quando for alguma coisa verdadeiramente grande, ele descobre, deixe estar. Deixe-me escrevendo como neste blog: ninguém que me viu as fuças lê, nem sabe que existe. Salvo algumas poucas exceções. Devo dizer, uma.

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