Republicação seleta (e levemente aperfeiçoada) dos textos de eutenhoumblog.blogger.com.br, blog que mantive dos 16 aos 19 anos, de 2003 a 2006. A ideia é que a repostagem seja na mesma data anterior (dia e mês, apenas dez anos depois). Nos comentários, eu falo do que me lembro da época em que escrevi, e avanço. Pra que o meu eu de então fique contente.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Capitães da Areia, de Jorge Amado

Observei alguns sites que tratavam do livro para me basear nessa resenha, e eles só tratavam da história, faziam um resumo e diziam que era atual. Só. Se há alguém que discorde, manifeste-se agora ou cale-se até ter argumentos melhores: a história do livro é quase dispensável. O enredo não é nada revolucionário, o que mais contou ali foi a essência. As entrelinhas. 

A história de Capitães de Areia é a história de alguns membros de um grande grupo de menores abandonados, que roubava e roubava no Rio de Janeiro. Aliás, o Rio de Janeiro continua lindo; a história de cada um, envolvida com a dos outros, nos tempos em que pessoas de quinze anos ainda eram crianças e não sabiam nada sobre sexo. 

Resumida em alguns personagens está lá a sociedade que ignora sistematicamente a situação dos menores, acreditando que são ladrões e isso é tudo. A Igreja que prefere dar mais atenção às madames que dão o dinheiro após a missa. O jornal que coloca peixes grandes em primeiras páginas e sardinhas lá pelo meio, escondido, sem atrativo; quem é que precisa saber da verdade? 

Todo o glamour dos boêmios e malandros, que vivem à custa de mulher-meretriz e arrumam brigas. O Brasil é aquilo ali. Houve epidemia: houve o lugar onde os pobres doentes iam e todos sabiam que não haveria volta. Houve os socialistas ou coisa semelhante, usando o podre do sistema para brincar de soldado com o sistema. 

A prisão de um deles, os maus-tratos na onde foi levado. E para quê qualquer um iria querer ser levado pra lá? Jorge Amado diz e diz de novo que tudo o que crescia naquelas crianças era ódio. De nunca ter tido o que poderiam ter — o que o mundo me pede não é o que mundo me dá — de não ser tão grandes como talvez pudessem ser. 

Tudo bem, podem falar que é demagogia, eu sou mesmo um médio-burguês abastado que reclama das coisas que não pode mudar. Mas que é verdade é. As pessoas tão lá matando no Rio? E você queria que fizessem o que? As pessoas tão matando cá nos EUA? E você queria que fizessem o que?

Tantos livros destes aqui comentados queimados por serem acusado de panfletagem do comunismo e talz, e nem precisava. Quem é que se importa? O Rio de Janeiro continua lindo, Deus é brasileiro.

Um comentário:

Duanne Ribeiro disse...

Há uns cinco anos atrás, ou seja, cerca de cinco anos depois deste post, eu reli Capitães da Areia. A denúncia social que há nele é relevante, mas talvez um pouco romântica demais para me atingir hoje. A história tem pontos fortes, mas de resto o estilo não me atrai. Jorge Amado é um escritor menor (o que O País do Carnaval, seu primeiro, torna mais do que claro).